Imagens revelam a realidade de pessoas que vivem em campo de Refugiados na Uganda
Fotos: Eron Zeni
Especialista em fotografia social, publicitária e fotojornalismo, Eron Zeni, que também sempre está presente nos eventos promovidos pela Editora Photos, teve a oportunidade de ir até a África a convite da ONG MAIS, Missão em Apoio a Igreja Sofredora, que tem sede no Espírito Santo para registrar a realidade de um campo de Refugiados na Uganda e visitar um vilarejo no estado de Mynia, no Egito. “Apesar de eu ter estado e fotografado nestes dois locais, prefiro focar nosso papo na Uganda, país onde encontrei mais desigualdades e mazelas e também o local que elegi para retornar e prestar ajuda” conta o fotógrafo.
O Campo onde ele esteve tem cerca de 40 km quadrados e fica á 300 km da capital Kampalla, Uganda. Neste local vivem pessoas que fugiram de guerras em países vizinhos, como Sudão, Congo e Tanzânia. Dentre os moradores existem pessoas formadas em direito, contabilidade, jornalismo. O hospital mais próximo é precário e fica há 40 km do campo e neste local trabalham apenas dois médicos e as pessoas que precisam de atendimento são obrigadas a andar até o hospital ou então terem a sorte de serem resgatadas por ambulâncias. “Nesta viagem tive a oportunidade de conhecer sorriso vindo da alma, do coração. Entendi que pobreza e felicidade não estão em lados opostos e que nesta vida se deve doar muito mais do que se recebe. Eu vou voltar e ajudar aquele povo” conta Eron. Confira a entrevista completa: Portal Photos: Quanto tempo durou sua passagem pelos dois lugares? Eron Zeni: A viagem toda durou nove dias, foram dois dias inteiros no Campo de Refugiados e os demais em Kampalla, capital da Uganda e também no Egito, na cidade de Cairo. Apesar de ter sido apenas pouco menos de 48 horas dentro do Rwamwanja Refugee Camp, tive tempo suficiente para ver o que é realidade de pessoas que vivem como animais.
PP: Como foi a interação com os moradores?
EZ: A falta de carinho e de atenção experimentada pelo povo que vive no local, cerca de 54 mil pessoas, torna fácil a entrada e o relacionamento. Apesar da dificuldade do idioma, pois a maior parte deles não fala inglês, consegui me comunicar recebendo e transmitindo mensagens, principalmente entre as crianças, que são a grande maioria.
PP: Alguma dificuldade você passou por lá?
EZ: A maior dificuldade que passei por lá foi ver crianças passando fome e sofrendo de falta de tudo. Não há água potável, comida é escassa e de má qualidade e a sujeira e o mal cheiro estão por todo lado. E difícil entender, como ser humano, que possa haver tanta desigualdade no mesmo planeta, com pessoas criadas pelo mesmo Deus.
PP: Em relação às fotografias, como fez? Ficou bem de perto?
EZ: Fotografei tudo de muito perto. Colei a câmera no rosto das pessoas. Interagi, deitei no chão, corri com as crianças, comi da comida deles, entrei nas casas, em alguns locais fui hostilizado e também por varias vezes vi crianças chorarem ao, pela primeira vez, terem contato com um homem branco, por lá chamado de “Muzungo”. Adoro trabalhar com lentes fixas e principalmente grande angulares. Nos momentos que fotografei de longe foram apenas naqueles em que não tive tempo de descer do carro, aí sim utilizei uma 70-200 mm.
PP: E os moradores te receberam bem?
EZ: Fui presenteado, acarinhado pelas crianças. Recentemente perdi parte dos dedos, indicador e polegar da mão direita e isto chamou demais a atenção das crianças, que faziam fila para tocar nos meus dedos. Com os adultos já foi um pouco diferente, pois muitos ligam pessoas brancas a dinheiro. Foram muitas as vezes que ao tentar fotografar um adulto escutei a palavra “Money”. Muitas vezes me fiz de desentendido e saí, noutras fui proibido de fotografar. Para minha segurança, sempre andei acompanhado de um morador local, já conhecido pelo pessoal da ONG.
PP: Conte alguma situação que tenha passado e queira compartilhar?
EZ: O que mais quero compartilhar é o fato de ter visto no mesmo local, pobreza e felicidade. Para a maioria de nós é impossível relacionar pobreza com felicidade, mas lá isso existe e pode ser visto através das fotos que fiz. Talvez pelo fato de que não pode se sentir falto daquilo que não se conhece eles sejam tão felizes. No local não há nem energia elétrica, então a maioria das crianças nunca viu uma televisão.
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